A questão do desemprego... Vencer ou ser vencido, existe escolha?


Sim, existe, e vou justificar minha resposta.
Já estamos quase um ano convivendo nesse espaço e acho que falei pouco de mim por aqui. Na verdade gosto de manter minha privacidade, mas sei que tem coisas que vivi que podem ajudar algumas de vocês.

Quero contar a princípio o porquê do tema deste post: Moro em uma cidade pequena, com pouco mais de 10000 habitantes (tem post aqui no blog falando sobre a cidade e os problemas que a população enfrenta). Para terem idéia, aqui há apenas três fábricas (de porte pequeno), dois supermecados, um posto de combustível, 5 lojas de material para construção e o restante das pessoas vive do plantio de banana, agricultura, funcionalismo público ou comércio familiar. Ou seja: pouquíssimas vagas de emprego, disputadas desesperadamente por pessoas despreparadas (já que a cidade não oferece muitas opções de capacitação profissional).

Como vocês já sabem, sou evangélica e frequento a igreja de três a quatro vezes por semana. Sabem uma coisa que escuto frequentemente por lá??? Pessoas pedindo oração por não terem emprego e oportunidade, pessoas pedindo ajuda por estarem necessitadas de suprimentos básicos ou remédios e acho isso realmente muuuito triste, porque sei que a realidade daqui é verdadeiramente difícil (sei que não é só aqui, mas uso como exemplo por conhecer as situações de perto).

Em contrapartida, ouço palestras e pregações que passam a seguinte mensagem: “Deus abrirá uma porta para você” ou “Hoje você sai daqui com sua vitória”. Quem é crente sabe do que estou falando e quem não é, pode achar que isso é mentira ou balela. Infelizmente, muitas pessoas ouvem isso e voltam para casa esperançosas, acreditando que serão chamadas para trabalhar em alguma loja, mercado, padaria, etc e se isso não acontece, acabam se decepcionando com a fé e até mesmo com Deus.

Quero mostrar um lado diferente dessa história, do qual EU sou testemunha viva.

Creio que quando alguém diz: “Deus abrirá uma porta para você”, talvez nem saiba sobre o que está falando, apenas sente essa certeza e repassa para que você também possa crer, mas as portas que Deus abre não dependem da aprovação de outras pessoas. Não espere que o dono do mercado ligue pra sua casa ou que alguém passe no seu portão dizendo que o lugar x tá pegando gente pra trabalhar. Explore as PORTAS da sua própria inteligência e medite sobre as oportunidades que você mesmo pode criar. Deus ajuda quem se esforça e trabalha, mas sentar e chorar pelas necessidades que passa, com certeza não vão render nada além de cansaço.

Falando sobre mim: Fui criada em uma família de classe média, em Santos. Morava na beira da praia, fazia teatro, balé, judô, natação e estudava em escola particular (era bolsista), sempre tive todos os brinquedos que queria graças ao esforço do meu pai que tentava atender todos os meus pedidos (acho que fazia isso porque era separado da minha mãe e convivíamos menos do que gostaríamos, era a forma dele se fazer presente).

Quando entrei na pré-adolescência meu pai entrou num negócio que não deu certo e tivemos que nos mudar para cá, pois o aluguel e custo de vida em Santos haviam se tornado altos de mais para nossas condições. Mesmo assim, viemos para cá em situação excelente, meus pais compraram uma ótima casa, com piscina, quintal, um graaaande terreno e apesar de eu ter que abrir mão de algumas coisas (como a escola particular e as outras atividades que fazia), continuei tendo uma vida de princesa, minha tia passou a morar conosco e sempre fez todos meus gostos: celular, TV no quarto, computador, roupas de marcas, coleção de sapatos, dinheiro pra passear e etc. Era completamente acostumada com tudo aquilo e realmente, não dava valor nenhum.

Depois de um tempo fui morar no interior com minha mãe e após dois anos ela faleceu. Voltei pra cá, mas nunca me entendi com meu pai e menos ainda com meu avô (que frequentemente estava em casa, reclamando de alguma coisa). Comecei a trabalhar com 16 anos pra fazer os cursos que eu queria e nessa época já namorava com quem hoje é meu esposo e pai dos meus filhos. Minha família não aceitava o relacionamento e as brigas entre eu, meu pai e meu avô chegaram a um ponto em que não conseguíamos mais conviver. Resolvi sair de casa.

Nessa época eu e o Neny (meu esposo) estávamos desempregados (eu tinha acabado de sair do meu emprego quando fomos morar juntos em uma casa emprestada pela tia dele) e o único dinheiro que tínhamos era R$120,00 para viver até Deus sabia quando.

Passamos muita necessidade, muuuuuuuita meeeeeeeeeesmo, até fome e banho de água gelada no inverno. Toda aquela vida de princesa tinha desaparecido em questão de uma semana e eu tive que me desfazer de muitas coisas que gostava... meu violão, meu teclado, meu celular, até meus piercings (que eram jóias) tiveram que ser vendidos enquanto pensava em como solucionaríamos aqueles problemas. O Neny fazia alguns “bicos” como ajudante de pedreiro e eu resolvi vender produtos por catálogo. Ali a vida começou a se acertar.... (primeira dica para quem está desempregado: já tentou vender catálogo????) sempre tratei as clientes com muito carinho e atenção e não vendia apenas para as conhecidas, ia nas escolas, no pronto socorro, nas lanchonetes... todo lugar que podia me render uma cliente. Com o dinheiro da venda dos catálogos conseguíamos pagar as contas de luz, água e gás (isso já era um alívio). Fui fazendo várias clientes e amigas e resolvi pegar com alguns mascates, peças de lingerie para vender (dica número dois!). Como já vendia os produtos por catálogo, aproveitava e oferecia as lingeries, vendíamos bastante e meu esposo me levava para a casa das clientes de bicicleta. Resolvemos juntar dinheiro e ir para São Paulo comprar roupas para revender (dica número 3). Conseguimos melhorar a situação da nossa vida e começamos a mobiliar nossa casa.
Nesse período, meu esposo arrumou um serviço de marceneiro e começou a ganhar 80 reais por semana (em 2008). Isso pra nós foi uma vitória. Era o primeiro dinheiro fixo que teríamos! A essas alturas, as vendas de roupas estavam uma loucura e qual foi a solução??? Comprar um carro! E nem habilitação nós tínhamos, hahaha. Compramos um Celta 2003 e passamos a levar as roupas para as cidades vizinhas nos fins de semana (mais clientes, mais $$$$).
Passou um tempo e eu fui chamada para trabalhar em uma concessionária da HONDA como vendedora externa. O pagamento?? Comissão de 1%. Ou seja: eu vendia 5000,00 e ganhava 50,00.

Muita gente me perguntou se eu era louca, afinal, a cidade não tem poder aquisitivo e se eu vendesse 3 motos por mês era muito (e só conseguiria isso com muito sacrifício).

Várias pessoas recusaram a proposta de trabalho da concessionária, mas eu consegui comprar um carro vendendo roupa!!!! Não iria fracassar vendendo moto, tinha certeza. (Dica número 4! Aquele trabalho que ninguém quer, pode ser a oportunidade da sua vida).

O que acham que aconteceu? Trabalhei como uma desesperada, cheguei a atravessar rio no meio da mata pra vender moto, kkkk, mas eu VENDI! Três meses depois me tornei responsável pela loja da cidade. Trabalhei um ano ganhando cesta básica, salário fixo, comissão sobre vendas, recebi capacitação profissional, pude fazer cursos e parei de vender roupas, pois não tinha mais tempo.

Nesse período, dava aula de dança de rua no fim de semana (gratuitamente), e conversando com as mães das minhas alunas, descobri que elas gostariam de aprender inglês, mas a cidade não tinha nenhum curso. Bem, eu falava inglês, então...... comecei a dar aulas particulares para um grupo de meninas (Dica número 5: todo mundo tem uma habilidade, use as suas) e isso fez com que uma escola da cidade, ficasse sabendo que tinha uma “professora” de inglês ensinando crianças por aí.... me chamaram para trabalhar e eu comecei a lecionar para uma turma da escola.

Como nessa época estava trabalhando na concessionária, tinha acesso à internet durante o dia todo e resolvi começar a estudar para concursos... trabalhava, dava aula, estudava e cuidava do Cauã (que tinha um ou dois aninhos) e de repente, meu esposo perdeu o serviço (a essas alturas ele já ganhava um salário mínimo na marcenaria). Pra nós foi um baque, pois tínhamos parcela de carro para pagar e prestações das nossas mobílias, além dos suprimentos para a casa e para o bebê.

Comecei a pensar em como poderíamos cobrir esse buraco no nosso orçamento e queria vender algo que desse dinheiro rapidamente. Não podia ser roupa, porque isso geralmente, demorava de um mês a dois para ter retorno e a gente precisava de grana para pagar as contas do mês (meu marido não tinha registro na marcenaria e quando foi demitido não recebeu um real). Tinha que ser... COMIDA (Dica número 6: comida sempre é um bom negócio, afinal, todo mundo tem que comer). Mas como??? Sempre fui uma negação na cozinha!!!

Achei que aquilo era um desafio e resolvi APRENDER  a cozinhar. Em dois dias aprendi a fazer salgados para festa. Fazia, congelava e vendia pacotinhos congelados de salgadinhos misturados por R$10,00. Ía trabalhar na concessionária, meu marido ficava em casa fazendo os salgados e eu chegava em casa no fim da tarde e ia vender (7ª dica: não imite o que os outros já fazem, crie algo que não tenha na sua região e se especialize). Fui fazendo graaandes clientes, que pediam quantias absurdas de salgados e com freqüência. Todos os dias fazíamos mais de 500 salgados e mesmo assim, precisávamos contratar pessoas para ajudar.

Nessa época abriu a inscrição de um concurso e como eu já estava estudando resolvi fazer... PASSEI! Fiquei muito feliz e enquanto aguardava ser chamada, continuava trabalhando na concessionária e nos salgados (as aulas precisei largar porque não tinha mais tempo), abriu outro concurso... fiz... PASSEI! Fui chamada para assumir no primeiro concurso que tinha feito, saí da concessionária, trabalhei 1 ano e fui chamada no outro concurso e estou aqui até hoje. Meu esposo começou a trabalhar no posto de gasolina da cidade, ficou um ano, saiu e com o dinheiro da demissão, montamos um lava rápido. Passei em sexto lugar no concurso dos Correios e aguardo para mudar de emprego novamente. Enquanto isso, cuido do blog, ajudo no lava rápido, estudo, trabalho na delegacia e administro redes sociais de 11 empresas. Nosso carro está quase quitado e semana passada compramos uma moto, a casa está mobiliada, meus filhos tem tudo o que precisam e lembrar que estávamos passando fome há 5 anos atrás parece mentira, mas é real.

O que posso dizer???? DEUS ABRIU AS PORTAS PARA MIM.

Mas não foram as portas de emprego. Foram as portas da MINHA MENTE. Ele me fez entender que somos todos capazes de PLANTAR e COLHER. Não precisamos esperar que venham plantar por nós ou que nos dêem as sementes. Um pouco de confiança em si mesmo e MUITA confiança em Deus são as chaves para manter TODAS AS PORTAS, sempre abertas! Espero que tenham gostado do livro post e que sirva de incentivo para quem estiver precisando.

BEIJOS.

Bruna Bozano

Funcionária Pública e estudante de Administração, 22 anos, mãe, esposa, amiga, cantora gospel, blogueira, evangélica, sonhadora e doida por cosméticos.

10 Comentários

Comenta aí vai... é quando você comenta que eu melhoro o blog e faço ele ficar do jeitinho que você quer ver.

  1. muito interessante sua história
    Tb passei nos correios com muitos dias de estudos,to aguardando ser chamada

    qual cargo vc passou?

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  2. Nossa que história de vida heim!!
    A gente tem que correr atrás das coisas sim, não é só ficar esperando as coisas cairem do ceu... Claro que Deus nos ajuda na jornada, mas temos que fazer por merecer também...
    Parabéns
    BJokas

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  3. Oi, nossa, Parabéns pela sua força de vontade, admiro pessoas que vão a luta e não ficam esperando cair do céu, queria ter um pouco mais determinação assim. Que muitas vitórias ainda venham pra você e sua família.

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  4. Bruna, que lição de vida.
    A cada dia sou mais dua fã.

    Um beijo!

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  5. Parabéns !!! Obrigada por dividir sua historia de vida conosco. Sou catolica e também tenho certeza que Deus age na nossa vida, seja abrindo portas, nossa mente e nos dando forças para prosseguir sempre !
    Bjokas

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  6. Adorei saber um pouco mais de vc e da tua história!
    Normalmente não leio posts longos, até por falta de tempo, mas o teu eu li e reli, gostei principalmente das dicas que você compartilhou, afinal, pra quem quer, sempre tem trabalho, basta ter disposição e criatividade.

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  7. Nossa Bruna,que história bacana a tua, fiquei muito emocionada lendo e cada parte que eu lia mais fiquei impressionada com a tua autosuficiência para sair de situações difícieis e recomeçar...
    É uma linda história de luta,em que tu conseguiu e ainda consegue aliar a força de vontade e a mente junto com o poder de Deus em fazer de tua vida sempre o melhor!
    Acredito muito que as coisas NÃO batam á nossa porta,é a gente que tem de ir buscar,e Deus está sim vendo e ajudando da maneira que a GENTE PRECISA e não da maneira que queremos...
    Mas fazer á nossa parte é imprescídivel para que podemos ser abençoadas por este Deus,as quais muitas vezes só lembramos quando estamos realmente na pior.
    Obrigada por compartilhar isso conosco e que sirva de motivação para mim e para aqueles que estão lendo!
    Beijos!!

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  8. Cara, ganhou uma admiradora. Ótimos exemplos de vida.
    Eu não tenho simpatia por religião porque conheço muita gente que acha que as coisas caem do céu, que "se deus quiser eu vou conseguir, se ele não quiser, eu não vou". Sabe, acho um pensamento muito medíocre. Quando fiz vestibular pra música, conversei com umas mulheres evangélicas que estavam ali também aguardando serem chamadas para a prova prática, e ouvi absurdos como "não, nunca fiz aulas de teoria musical, só canto na igreja e deus vai me ajudar a passar". Obviamente elas não passaram!
    De certo modo somos levados a crer que milagres acontecem, que oportunidades caem do céu, mas a vida não funciona desse jeito - temos que "fazer por onde". Infelizmente muitas crenças deixam as pessoas numa espécie de expectativa, acomodadas. Que bom que você não pensa desse jeito. Bom, não sou teísta, e prefiro dizer que "deus", no caso, seria "vontade e coragem".

    Eny de Souza (Docinho).

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  9. Nossa que história de vida. Você é uma guerreira. Eu sou evangélica também. Deus abre as portas mas devemos lutar e correr atrás daquilo que queremos e acreditamos sim... Gostei muito de saber mais um pouco de você :-) Eu amo seguir Blogs, e o seu realmente me encantou. Não saio mais daqui. A cada dia que leio um post diferente, aprendo mais... Que Deus te abençõe. Beijossssss

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